INTRODUÇÃO
O tema do meu trabalho “ O Cobridor Interno” é muito desafiador, uma vez que pouco há escrito sobre o tema, tanto nos livros, como em artigos e sites da Internet.
Em minhas pesquisas, li que os antigos operários se reuniam em guildas ou agremiações operativas de artífices de ofício, e em tempos remotos, aonde os chamados cobridores eram aqueles que telhavam as obras, cobriam-nas com telhas.
Os cobridores são verdadeiros especialistas ao cuidar e analisar ângulos, não deixavam fendas ou brechas e nenhum detalhe por pequeno que fosse ou pudesse comprometer todo o trabalho da obra e de seus obreiros, nada passa inerte aos atentos olhos dos cobridores; não haveria de ter sequer uma “goteira” que pudesse entrar ou infiltrar-se nas grandes colunas das construções.
Já no oficio simbólico da nossa maçonaria, os Cobridores passaram a ser os Guardiões Externo e Interno das reuniões. Existe literaturas que relatam que este cargo deve ser ocupado pelo último V∴M∴ ou Past Master, devido a importância do cargo, ato que demonstra a humildade e grandeza de espírito do obreiro.
Nota:
O termo “Telhar” vem como outros do oficio operativo “COBRIR.”
O COBRIDOR INTERNO
Para fins deste estudo, dividiremos a análise do significado e atribuições do Cobridor, resumidamente, em dois planos:
- Atribuições legais e aspectos práticos:
- Simbolismo do cargo:
Atribuições Legais e Aspectos Práticos:
O Regulamento Geral da Federação – Grande Oriente do Brasil, estabelece as atribuições legais dos Cobridores Interno e Externo, a saber:
“Do Cobridor Interno”
Art. 107 – Compete ao Cobridor Interno:
I – guardar a entrada do Templo, zelando pela plena segurança dos trabalhos da Loja;
II – não consentir a entrada ou saída de Obreiros sem a devida autorização;
III – verificar se os Obreiros que desejarem entrar no Templo, após o início dos trabalhos, estão trajados regularmente e encaminhá-los consoante determina o respectivo Ritual.
Em outras palavras, o Cobridor é o “guardião” do Templo, que zela pela sua integridade, pelo sigilo dos trabalhos, pela segurança na entrada do Templo, pela identificação das pessoas que a ele se dirigem, pela fiscalização da indumentária dos obreiros, reportando-se sempre ao Ir.: 1º Vig.:, o qual transmite as informações ao V.: M.:.
Vale lembrar que durante as sessões, quando não houver Cobridor Externo, o cobridor interno fará suas vezes. Isso é o que se percebe da análise do Ritual do 1º Grau do REAA, o qual, após o Ir.: 1º Vig.: determinar ao Ir.: Cobr.: verificar se o Templo está coberto, assim determina:
“se houver Cobr.: Ext.:, o Cobr.: Int.: dará as pancadas do Grau (com o cabo da espada) na porta pelo lado de dentro e o Cobr.: Ext.:, após fazer a verificação, dará as pancadas do Grau na porta pelo lado de fora. Se houver somente Cobr.: Int.:, o mesmo sairá do Templo, fará a verificação, baterá na porta pelo lado de dentro e dirá:
“ – Ir.: 1º Vig.:, o Templo está coberto.”
Outro ponto importante a destacar quanto às normas de comportamento ritualístico e litúrgico foi destacado pelo Ir.: Sidney Riesco Marculino, em ousado trabalho publicado na revista Colunas Voz do Dia, ano XIII, nº 64 de 2003, p. 8 e 9, que ensina:
“…Independentemente do grau em que a Loja estiver trabalhando, o Obr.: que chegar atrasado a Ses.: deverá dar somente três pancadas na porta (bateria do Grau de Apr.:) e não as baterias de outros Graus. Compete ao Cobr.: verificar quem bate, certificando-se de que o Obr.: do Quadro ou visitante, tem Grau simbólico suficiente para assistir a Ses.:.”
“Se no momento em que o Obr.: bater à porta do Templo, não for possível franquear-lhe o ingresso, o Cobr.: dará as mesmas três pancadas do Grau, na parte interna da porta. Isso significa que o retardatário deverá aguardar o momento propício para entrar.”
Em minha compreensão, dependendo do assunto que estiver sendo tratado, o momento em que se encontre a ritualística da sessão, e também de quem esteja fazendo uso da palavra, como por exemplo, o V.: M.:, seria inadequado o Cobr.: levantar-se somente para responder às pancadas na porta do Templo, sem abrí-la, uma vez que atrapalharia o curso dos trabalhos e poderia eventualmente tumultuar desnecessariamente a Sessão, pois é certo que o Ir.: que bateu à porta do Templo deverá aguardar resposta, demore quanto tempo demorar, e o Cobr.:, já gozando de certa experiência, deverá saber o momento oportuno para anunciar a batida à porta e fazer entrar o Ir.: que chegou atrasado.
Simbolismo do Cargo:
O Cobr.: é um dos Oficiais que compõem a Estrela Hexagonal, composta por um triângulo de ápice superior e outro de ápice inferior, ambos eqüiláteros e sobrepostos, a qual serve para simbolizar os dirigentes de uma Loja maçônica composta, de acordo com as suas atribuições, ligadas à espiritualidade, ou à materialidade.
ESTRELA DE DAVI / PENTAGRAMA
Assim, no triângulo de ápice superior, o ângulo superior é representando pelo Venerável Mestre, enquanto os outros dois são representados pelos Vigilantes, já que essas três Dignidades (ou três Luzes da Oficina) são responsáveis pela orientação espiritual dos obreiros, formando o Triângulo da Espiritualidade (tomada, aí, como o conjunto das qualidades espirituais do homem: mentais, ou intelectuais).
ESPIRITUALIDADE
Já no triângulo de ápice inferior, o ângulo inferior é representado pelo Cobridor, ou Telhador, enquanto os dois outros ângulos são representados, respectivamente, pelo Orador e pelo Secretário, pois, competindo-lhe a orientação material da Loja (o Orador, selando pelo cumprimento das leis, o Secretário, como responsável pelas atas e expediente da Loja, e o Cobridor, zelando pela segurança do Templo), eles formam o Triângulo da Materialidade.
MATERIALIDADE
Por essa representação de Dignidades e de um Oficial da Loja, a Estrela Hexagonal gerou a mais correta maneira de circulação, nos ritos que os possuem, do Tronco de Beneficência e do Saco de Propostas e Informações, quando o oficial circulante atende, inicialmente, ao Venerável Mestre e aos Vigilantes, formando o triângulo da espiritualidade, e, depois, ao Orador, ao Secretário e ao Cobridor, formando o triângulo da materialidade e completando a estrela, para, finalmente, atender às demais autoridades do Or.:, aos Mestres da Coluna do 2º Vigilante, aos Mestres da Coluna do 1º Vigilante, aos Companheiros e aos Aprendizes, nessa ordem. A circulação, feita dessa forma, satisfaz ao simbolismo dos cargos e respeita a hierarquia do quadro de obreiros.
Nota:
A palavra Cobridor pode também ser encontrada na literatura maçônica como sinônimo de manual ou rito. Exemplo: Manual Maçônico ou Cobridor do Rito Escocês Antigo e Aceito.
CONCLUSÕES
Este estudo me trouxe a reflexão do meu crescimento interior como homem, onde tomo consciência dos valores intrínsecos da alma, revejo os meus padrões morais, tornando-me mais sutil, e promovendo maior exigência de mim mesmo em meu comportamento moral, cívico, ético e familiar.
Ao realizar uma analogia neste estudo, defino a consciência como o Cobridor Interno, o guardião permanente de nossa conduta. A todo momento, em nosso dia-a-dia, nos relacionamentos profissionais ou familiares, a nossa consciência é abordada no sentido de responder às questões que surgem. É ela quem nos diz: isso é bom ou isso é mau. Por isso, é preciso reflexão antes de tomarmos decisões, na base do sim ou do não. Uma conduta impensada, uma frase inoportuna e mal colocada, poderão trazer-nos dissabores o resto da vida, porque agimos contra a consciência, que não teria sido ouvida devidamente.
Em nosso Templo, e fora dele, temos um campo imenso para exercitar a consciência e expandi-la. No silêncio de nosso Templo Interior, abriga-se a alma, com os atributos que lhe foram dados pelo Grande Arquiteto do Universo.
Concluindo, o estudo também me trouxe a reflexão sobre a consciência de todo o potencial espiritual necessário para ocupar esse cargo, o qual no meu entender, o maçom responsável deve estar em sua plenitude, assim como o cobridor interno, que deve ser sempre, nobre, corajoso, justo e perfeito.
REFERÊNCIAS
- Regulamento Geral do Grande Oriente do Brasil.
- Ritual do 1º Grau do REAA.
- Revista Colunas Voz do Dia, Ano XIII – 1982/2003 – nº 64.
- CASTELLANI, José. “Origens Históricas e Místicas do Templo Maçônico”. São Paulo, Editora Gazeta Maçônica – 1991.
- CASTELLANI, José .“Consultório Maçônico”, vol VII. São Paulo, Editora A Trolha – 2000.
Autor: Glauco Ruffolo Russel