Desde muitos séculos atrás existem fraternidades, que transmitem seus conhecimentos herméticos a poucos escolhidos. A palavra “esotérico” tem raiz grega e foi criada por Sócrates, quando dava instruções filosóficas em sua casa, reservadas a um grupo seleto e restrito de amigos que tinham a capacidade de compreender e entender os seus propósitos metafísicos. Por isso “esotérico” tem o sentido de hermético, fechado, escondido, e reservado, e assim também são os conhecimentos de nossa ordem. Da mesma forma, são poucos os escolhidos dentro de nossa sociedade, homens aparentemente livres e de bons costumes, que poderão ao longo do tempo desvendar e apreender o simbolismo.
Toda a história da humanidade, com todo o seu progresso, nos é mostrada através de alegorias e símbolos, entre os quais o homem sempre viveu.
Não serão estes símbolos, as alegorias ou o ritual que mudarão nossa personalidade, mas sim, a interpretação e a compreensão de suas verdades e a posterior prática das virtudes neles incorporadas.
Ao nos tornarmos maçons, participantes dessa nobre instituição que há muitos anos vêm tentando mudar e melhorar o caráter do ser humano, para que tenhamos uma sociedade mais justa, mais fraterna e solidária, nos deparamos com alguns símbolos e palavras que nos identificam como maçons, assim, por exemplo, quando chegamos em uma loja maçônica de qualquer potência regular, em qualquer lugar do mundo, nos é exigida a nossa identificação como maçons.
Dentre outras coisas é perguntado:
O que vindes aqui fazer?
A resposta correta é:
Vencer minhas paixões, submeter minhas vontades, e fazer novos progressos na maçonaria.
Vencer minhas paixões
O propósito da Maçonaria é edificar um mundo ideologicamente perfeito, do qual o homem virtuoso será ao mesmo tempo, o beneficiário e o organizador.
O que estamos tentando construir é o edifício perfeito dentro do ser humano, ou seja, é eliminando as arestas de nossos vícios e lapidando as nossas paixões que poderemos nos tornar um ser humano melhor para nossos familiares, nossa sociedade e para nós mesmos.
É mudando nossos hábitos, ações, e comportamentos, que transformamos o mundo a nossa volta. É a busca da perfeição e a prática das virtudes que nos transformarão em seres humanos melhores.
Quando alguém quer se tornar melhor em algo, treina e pratica constantemente, até conseguir o seu objetivo. Quando alguém deseja melhorar o seu caráter, iluminar o seu espírito e a sua alma, deve praticar todas as virtudes diariamente, e é isto que buscamos aqui. Não é só dentro da loja que devemos ser perfeitos, devemos sim, ser perfeitos para o mundo, só assim, mudando primeiro a nós mesmos é que conseguiremos dar o primeiro passo para uma humanidade melhor, praticante da caridade, mais fraterna, mais solidária e com mais amor entre todos os irmãos.
Porque eliminar as arestas de nossos vícios e lapidar nossas paixões?
Porque nossos vícios são hábitos desregrados que adquirimos ao longo de nossas vidas, e são perfeitamente descartáveis, pois, podemos viver sem eles.
Porque somente lapidar nossas paixões?
Porque as paixões fazem parte do ser humano. São emoções e sentimentos que estão escondidas em nosso âmago. Vêm enraizadas dentro do ser humano e sem elas os ser humano não é nada. Por isso devemos somente aplainá-las, desbastando a parte podre, sufocando a parte má para que prevaleça a parte boa.
É a história dos dois lobos, que conta que todos tem dentro de si um lobo bom e um lobo mau, vence aquele que alimentarmos.
O bem e o mau estão dentro de cada ser humano, e cada um faz aflorar o que quiser. Nossas paixões são as nossas emoções mais profundas que se levadas a um alto grau de intensidade sobrepõe à lucidez e à razão. O ser humano é um ser emocional, por isso devemos controlar nossas emoções com uma disposição firme e constante para a prática do bem e assim conseguiremos vencer nossas paixões.
Submeter as minhas vontades
A vontade, é a capacidade que os seres vivos têm de determinarem o seu procedimento de acordo com o que é orientado pela consciência ou pelo instinto. Como seres humanos, nossa vontade pode ser controlada pela inteligência, que escolhe os recursos de que vai fazer uso para manifestar-se. Assim, à luz dos costumes e leis, somos obrigados a restringir a manifestação da nossa vontade àquilo que pode ser feito ou representado, sem ofensa à lei ou aos bons costumes.
Isso, no entanto, não impede que, às vezes, tomemos ações em desacordo com essas leis e costumes, para satisfazer a uma necessidade ou desejo. Esta violação das normas e costumes, representa o emprego das nossas capacidades sem o controle adequado da nossa consciência e da nossa mente, representando a fuga do nosso ser de dentro dos limites impostos pelo contexto social.
Na Maçonaria, exercitamos a nossa capacidade de fazer a nossa vontade ficar contida dentro dos limites dos nossos landmarks, leis, usos, e costumes, que são suficientes para assegurar que seremos pessoas capazes de viver dignamente em qualquer contexto social e legal. Esse domínio sobre a vontade, depende de intenso e constante treinamento e autovigilância, pois sempre há alguma dessas manifestações de indisciplina intelectual e mental pronta para aparecer e nos vencer.
Fazer Novos Progressos na Maçonaria
A Maçonaria não é religião, não é Igreja e não é escola, é uma instituição iniciática e eclética que conclama toda a humanidade a viver fraternalmente, todos como irmãos.
Os progressos que viermos a fazer dentro da Maçonaria só dependerão de nós mesmos. Cabe a cada um de nós irmãos, buscar a perfeição maçônica e, por conseguinte, a perfeição humana.
Através de muito estudo e trabalho é que poderemos fazer novos progressos na maçonaria, ou ficaremos por muitos anos sem entender o porque de estarmos aqui.
Cabe a cada um procurar e questionar, estudar e refletir, sobre toda a nossa filosofia, procurando tirar de cada símbolo uma lição de vida, de cada dia em loja um aprendizado, pois, não existem dias iguais, como não há ser humano igual, cada dia em Loja é diferente do último, e essa é a riqueza que traz conhecimento.
Conclusão
Mais uma tríade da Maçonaria, vencer minhas paixões, submeter minhas vontades, e fazer novos progressos na Maçonaria, é mais do que uma frase simbólica para que sejamos reconhecidos como irmãos, é basicamente o resumo do que buscamos e nos comprometemos a fazer ao entrar na Ordem.
Ao declarar o desejo vencer nossas paixões, assumimos o compromisso de descobrir quais são aquelas que assolam a nossa alma, e como pretendemos removê-las das nossas vidas. Conhecer-se intimamente é o primeiro passo para derrotar os impulsos menos nobres e caminhar na direção do bem.
Com relação a Submeter as vontades, através do livre arbítrio, o ser humano é livre para ser e fazer o que quiser, sem dar satisfações a ninguém a não ser a ele próprio. Em contrapartida, a prestação de contas é obrigatória, e temos de assumir as responsabilidades pelos nossos atos e sofrer as consequências de nossas ações. Como conta o dito popular,” a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”.
Este submeter as minhas vontades, não quer dizer submeter a minha vontade à vontade de outros, mas sim, submeter minha vontade à minha própria vontade. É ter controle sobre minhas ações e emoções. É fazer minha razão vencer minha emoção, tendo um raciocínio lógico e juízo perfeito em minhas ações. Ter emoções e vontades saudáveis, aprimoram o seu relacionamento consigo mesmo e irradia vida e felicidade ao seu redor.
Sobre fazer novos progressos na Maçonaria, a expressão significa que somos maçons para aumentar nossos conhecimentos da Arte Real continuamente. Conseguiremos isso ao frequentarmos regularmente a nossa loja, ao buscarmos conhecimento através do estudo e trabalho, ao estarmos atentos à tudo que nos é compartilhado pelos irmãos, em loja e fora dela. É dessa forma que faremos progresso e cresceremos como Maçons e seres humanos melhores.
Bibliografia:
– Ritual do Aprendiz
– Instruções do primeiro grau – Madras Editora
– Revista Universo Maçônico
Autor: Alessandro Grecco Andia